Geni Maria Hoss | Quantas vezes, ao olhar para a história de vida pessoal tem-se a impressão de que ela oferece assunto suficientemente diversificado e instigante para escrever um livro. Ou ainda, quem algum dia não pensou que a própria vida poderia tornar-se um bom filme? Que “happy end” eu poderia imaginar para o filme da minha vida?

O livro da vida sou eu que escrevo dia após dia. As pessoas à minha volta partilham continuamente as páginas e capítulos do meu livro. Mas, quem seria o maior leitor? Sim, ele mesmo, o próprio Deus. Ele lê as linhas, mas também conhece as entrelinhas da história da minha vida. O que ele gostaria de ler? Com certeza, espera ler uma grande história de amor e santidade. Uma história de amor com todas as suas peripécias, fracassos, sucessos e vitórias próprias da vida.

Deus lê o livro de minha vida com um critério muito especial: Ele o lê à luz do meu sentido de vida, da missão pessoal que ele próprio me confiou. Não sou apenas mais um no mundo! Sou alguém importante aos seus olhos, com uma missão que só eu posso cumprir. Tenho uma tarefa única a cumprir e esta eu recebi como dádiva de Deus ao me criar. É o que se chama, em Schoenstatt, de Ideal Pessoal.

O Ideal Pessoal é, na verdade, o sonho que Deus tem de mim. Mas, como saber o que Deus quer de mim? Agora, sim, é hora de ler o livro da própria vida, não somente o que eu já escrevi, mas também o que Deus escreveu nele.

Um best-seller sonhado desde toda a eternidade

Antes mesmo que a minha história começasse neste mundo e dela eu tivesse consciência, Deus teve um lindo sonho a meu respeito. “Antes que no seio fosses formado, eu já te conhecia; antes de teu nascimento, eu já te havia consagrado” (Jr 1, 5a). Perscrutar os desígnios de Deus não é um caminho fácil, mas fascinante, pois dá imensa satisfação quando se está em busca de algo tão maravilhoso.

Devo me perguntar: Que sonhos me acompanham desde sempre e não há tempestade da vida que consiga apagá-los? Por quais caminhos Deus me conduziu? A que necessidades e interpelações do tempo e do contexto sociocultural onde vivo eu sou chamada a responder com meu testemunho e apostolado? Quais os traços fortes da minha personalidade, da minha particularidade feminina? As respostas são todas pequenas luzes que, em seu conjunto, me dão uma resposta significativa para identificar o meu Ideal Pessoal – que, poderíamos dizer, é o título do nosso livro.

O Ideal Pessoal, como o próprio nome indica, é uma luz que desponta no alto do monte, que me move a dar passos e passos para alcançá-lo. Os passos significam cada pequeno e grande esforço da vida cotidiana para alcançar a santidade.

Ação, emoção, suspense, encontros e desencontros fazem parte da história…

Para alcançar o Ideal Pessoal não é qualquer caminho que serve e não é caminhando de qualquer jeito que vou chegar ao topo. O caminho está repleto de flores, mas também de pedras e espinhos, não importa, a vida é assim: cheia de alegrias, realizações, sucessos, mas também de fracassos, desilusões e cansaços. Nada do que ela foi, é e será, é insignificante no cumprimento da minha missão, do meu Ideal Pessoal.

Em Schoenstatt, graças à sua pedagogia, eu encontro preciosos instrumentos que me auxiliam na caminhada. Aqui se trata, em primeiro lugar, do Horário Espiritual.

O Ideal Pessoal me aponta o horizonte, o Horário Espiritual é o caminho.

O Horário Espiritual não é um programa exclusivo de práticas espirituais – embora sejam muito importantes. Cuidar de si própria, da saúde física, mental e espiritual, é assumir a tarefa que Deus me confiou quando me chamou à vida.

É amplo o leque de possibilidades que se pode e deve incluir no Horário Espiritual: podemos falar, por exemplo, em competência e ética profissional, no cuidado com a família, na atenção dispensada aos que me são confiados, etc. É preciso conhecer-se para que haja o acerto de cada passo na caminhada.

Agora, vale perguntar: O que deveria conter no livro da minha vida?

Com certeza, o Horário Espiritual controlado por escrito é um espelho da minha caminhada e é um capítulo importante do livro da minha vida. Mas não basta constatar se eu tive sucesso nos meus propósitos e na minha caminhada espiritual ou se fracassei. É aconselhável acrescentar uma espécie de “diário espiritual” com os motivos do sucesso ou fracasso dos meus propósitos. Se os motivos que me levaram a fracassar são externos, as anotações me ajudam a repensar como adequar melhor meu Horário Espiritual ao meu dia a dia; por outro lado, se os motivos do fracasso forem de caráter pessoal, por minha falta de comprometimento, o diário me ajuda a evitar dar desculpas e, de forma objetiva, reconhecer onde estão os meus limites e minhas possibilidades de crescimento. Anotar os pontos altos de cada dia ou semana ajuda a me conhecer como pessoa, com meus ideais e sonhos próprios.

Para além do controle por escrito, da revisão regular e do recomeço em cada nova etapa, seria interessante contar com o apoio de um Diretor Espiritual, quando possível, um confessor permanente. Assim se pode garantir o acompanhamento espiritual com o devido aconselhamento.

Anotações regulares, acompanhadas de reflexão e avaliação, me oferecem a possibilidade de compreender que ser santa não é ser perfeita, mas ter a coragem de levantar sempre de novo e recomeçar. O “livro da minha vida” – ou seja, as anotações que fazemos sobre nós mesmas – é algo muito pessoal e íntimo, mas ele também pode me dar elementos para reflexão e avaliação e, tal como o Horário Espiritual, pode ser objeto de acompanhamento espiritual. Dentro das condições possíveis, vale buscar ajuda, como referido acima.

Fazer um diário espiritual também permite reconhecer a Divina Providência em minha vida, que me conscientize das inúmeras experiências do amor e misericórdia de Deus. Assim, o livro da minha vida será um verdadeiro testemunho de um caminho persistente de santidade e de louvor a Deus pelas grandes coisas que opera em cada dia da minha vida. Magnificat!

Curiosidade:

Grandes santas da Igreja tiveram seus diários pessoais revelados após a morte, mostrando como o caminho de santidade dá um livro belo e pessoal. “História de uma Alma”, por exemplo, traz os relatos pessoais de Santa Teresinha do Menino Jesus; também o “Livro da Vida”, de Santa Teresa D’Ávila mostra a autobiografia de sua experiência pessoal com Deus. Algumas heroínas de Schoenstatt também tinham o hábito de escrever, como Ir. M. Emilie Engel e Bárbara Kast; vários trechos de seus diários estão nas biografias de ambas.

O artigo foi escrito para o site https://schoenstatt.org.br/ e publicado lá.

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